24/02/2009

Sobre 24/02 e Soneto de Véspera


No início, achou que poderia ser apenas cansaço e que talvez dormir por horas afastasse todo o mal que lhe afligia. Mas não resolveu. Desejou então, dormir por dias, dias e noites e mais alguns dias.
Nada resolvia. De nada adiantava ignorar tudo lá embaixo. As pessoas, os carros, e mais uma vez, os trens e os trilhos. Nada resolvia.
Nem mesmo o retrato vermelho, nem todos os cafés e a mesma canção favorita. Nada parecia tranquilizar o seu coração aflito.
E que farei da antiga mágoa quando
Não puder te dizer por que chorei?
(V. M, Oxford 1939)

Odiou mais uma vez todo o calor dos últimos meses.
E jurou que se fosse por ela, e para ela somente, todos os meses seriam de inverno. Frio em todos os dias e noites, neblina em todas as suas manhãs.

15/02/2009

I.E.E.

Não sabia o que falar.
Depois não soube o que escrever.

Em todo, eram só os pensamentos, novamente em chamas.
Em instantes lembrou mais uma vez de tudo o que lhe fazia falta, por sua singularidade. Por ser inesquecível. Pensou em chamar novamente, pensou em dizer tudo. Pensou que talvez não houvesse nada mais a ser perdido. Já que de tudo, o que restou lhe parecia sempre inerte: Desejo imensurável, específico. Excessivo.

"É preciso saber esquecê-las, quando são muitas, e ter a grande paciência de esperar que retornem por si. Pois as lembranças em si ainda não não o são. Só quando se tornarem sangue em nós, olhar e gesto, sem nome, não mais distinguíveis de nós mesmos, só então pode acontecer que numa hora muito rara se erga do meio delas a primeira palavra de um poema" (OS CADERNOS DE MALTE LAURIDS BRIGGE - Rainer Maria Rilke, 1910 - Sonho de consumo ou o livro que eu ainda não li).
(-Boa noite, caso você não consiga dormir, me ligue.
COMPLACÊNCIA– Não, você não irá escrever sobre isso.
-Só recebi agora a sua mensagem ... Dormindo? 16/06/2008 - 03:10)

07/02/2009

Sentimentos próprios em composições alheias

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem

Quem vai transformar a perda em nossa recompensa?

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade de um tempo que ainda não passou
Por trás do seu sossego, atraso o meu relógio, acalmo a minha pressa
Me dá sua palavra. Sussurre em meu ouvido - O caos do pensamento.
A pausa do retrato
A voz da intuição
A fórmula do acaso
O alcance da promessa - O salto do desejo.

"Não conseguia entender-se nem equilibrar-se, chegou a pensar em dizer tudo".
"- Vou-me embora, repetia... E essa oração intercalada trazia uma ideía original e profunda inventada pelo céu unicamente para ele".
"Sem que ele(a) pudesse acalmar-se nem entender-se. Não estava bem em parte nenhuma".
(M.A. Várias Histórias / Uns Braços / página 27)


04/02/2009

Sobre 03/02

Seu olhar em 3 segundos.
Sim, talvez fora melhor não ter saído aquela noite.
Decidiu que não gostara da forma que seus olhos a viram.
E repetiu a noite toda, durante a chuva e depois dela, dentre outras coisas latentes: eu não gosto da forma como me olha, eu não gosto..."


Eu não me esqueço do seu olhar.
"É bom dizer, em voz alta: nada aconteceu. Mais uma vez: nada aconteceu" (Rainer Maria Rilke, poeta tcheco-austríaco)