19/06/2009

Onde estaria com a cabeça?

(Em Marte, certeza)
Trecho de algo escrito há 3 anos.

...O amor nasce. Ao mesmo tempo em que se atende ao telefone e seu sino de toque estrídulo, acelerador de corações, causador de guerras com móveis em busca do tesouro alô. Nasce em cafés, que jazem esquecidos em xícaras impercebíveis, em meio à voluptuosa dança de olhares que paira sobre os polos da mesa cruzados por um enlace de mãos. Nasce em meio ao insistir de acordes, que já não são mais violino e piano, somente inspiração. Nasce no congelar de sentido, onde toda a atenção dos olhos pousa sobre o carmim dos lábios, que ele resiste em não tocar e ela em não oferecer. Corpos enlaçados pela pressa da máquina de subir e descer, e ele nasce. Com cinco minutos de atraso ou outros poucos deles adiantados, o amor nasce. Nasce na morte do pagão ódio, ao se deparar com a misericórdia divina, no meio do caminho para a crucificação. No contestar da pretensão ridícula de profetas de corações mal-curadosm que instaura nos ouvidos de quem passa pelas esquinas, a barbárie de querer velá-lo a todo instante, o amor nasce.
O Amor Nasce. Jéssica C, 30/06/2006

(Intertextualidade do meu favorito, o Amor Acaba, de Paulo Mendes Campos)

Tenho que confessar. Tinha um professor de Língua Portuguesa, que até hoje, me irrita a lembrança. Um desperdício de oxigênio, neste nosso penoso planeta. Só me fez bem, ao expulsar-me da sala, todas as vezes. - Se lembranças pudessem se suicidar, garanto, essas já teriam feito. Pulariam do mais alto andar, dizendo em estrídulo: P, sempre te odiei. Adeus.

10/06/2009

e o nome amores.

Com o sol, pediu que saísse.
Que saísse da forma concreta. Pediu a providência cuidadosa de que retirasse tudo o que pudesse ficar como lembranças. Delas, bastariam as que já estavam pousadas sobre as toalhas brancas, os copos de vinho e os cinzeiros repletos. Para lembrar, bastariam uns dois ou três almoços, os instantes de silêncio após as canções. Bastaria o perfume instaurado em seus movéis, e isso tudo já era demais.
No congelamento que se fazia, pensou em colocar um disco, ensaiou uns gestos de dobrar lençóis. Não queria dizer o que sempre é dito, que de tudo, algo haveria de permanecer. Que iriam se falar, não esqueceriam os e-mails, e se esbarrariam, sem dúvida, entre os cafés e os semáforos. Preferiu o legítimo adeus em sua urgência absoluta, pedindo que deixasse as chaves sobre o criado e que aquele fosse o fim.
(Jéssica C.)
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(Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. - Fragmentos, Caio Fernando Abreu)
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03/06/2009

Valerá o pecado.

de Shakespeare.
Será que meu coração me engana?
É verdade o que vejo?
Jamais tivera visto tanta beleza até esta noite.
(Romeu, ao encontrar e apaixonar-se por Julieta)

Mil vezes boa noite (milhares).
Partir é uma dor tão doce que poderia dizer-te boa noite até amanhã.
(Julieta, ao despedir-se, apaixonada, de Romeu)

(é como estou em você, assim como para sempre, estará em mim)
Podia vê-la transbordar pelas cortinas, inundar as paredes, espatifar-se entre os retratos, sobre
o vermelho, sobre as pinturas já feitas e aquelas que ainda faltavam colorir. Estava posta entre as canções, os lençóis, instaurada em inércia dentre as milhares de palavras. Como se declarasse, em confissões uníssonas, que jamais iria partir. Não a deixaria.
(não durma)