(...) Se antes de cada acto nosso nos puséssemos a prever todas as consequências dele, a pensar nelas a sério, primeiro as imediatas, depois as prováveis, depois as possíveis, depois as imagináveis, não chegaríamos sequer a mover-nos de onde o primeiro pensamento nos tivesse feito parar (...) Página 86(...) afinal, há é que ter paciência, dar tempo ao tempo,
já devíamos ter aprendido, e de uma vez para sempre, que o destino tem de fazer
muitos rodeios para chegar a qualquer parte (...) - Página 226
(... )Quer dizer que temos palavras a mais, Quero dizer que temos sentimentos a menos, Ou temo-los, mas deixámos de usar as palavras que os expressam, E portanto perdemo-los (...) Página 277
(Trechos de Ensaio sobre a Cegueira, do português premiado pelo Nobel, José Saramago)
Ensaio Sobre a Cegueira pode ser considerado como a obra-prima do pós-modernismo lusitano. É digno de sublinhar-se o propósito de convencimento de Saramago a partir da construção minuciosa de um romance belíssimo e pleno que torna verossímil o quase absurdo que propõe. O fio condutor do (mais uma vez), romance turbulento é a exemplaridade trágica da cegueira, que acomete a cidade como situação extrema de uma realidade adversa. Trata-se de uma cegueira branca, que ilumina em vez de lançar nas trevas os que a contraem, é o símbolo da perplexidade discursal, que sobretudo, é metafórica e poética. Sua citação máxima (ao meu ver, claro) está em: "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara" – no qual o último verbo da epígrafe, pode e deve ser interpretado com uma plurissignificação: fixa a atenção, observa; corrige, remedeia e, sobretudo, recupera.
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