14/12/2009

Antigo


E mesmo sabendo que já era dito, escrito, estendido em várias letras, achou que caberia bem repetir mais uma vez, para fazer valer: não gostava muito do calor dos últimos dias. Eufêmica, claro. Em linhas sinceras, diria que odiava muito o calor dos últimos dias.
Pensou que sem o sol, não haveria essa sede de beber os mares. Talvez sem o sol dos dias, findaria e dessa vez para sempre, esses súbitos vindos em maus sonhos. Nem pesadelos nem devaneios. Somente gestos atados e palavras esbravejadas no silêncio.
O sol dos dias invadia a sua casa, como se descobrisse-lhe o coração. Por horas, não coração. E suas declarações de ciúmes amargos, ódios vagos e estúpidos. O sol dos dias caia sobre os seus sorrisos de metáfora. Iluminava a pilha das cartas sobre as cartas. O sol dos dias, alardeava as lágrimas confessadas ou secretas. Lágrima de amor, calor e parabéns para você.

Ninguém lhe nega coração excelente e claro espírito, mas a imaginação é que e o mal - Metafísica.

Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há poucas outras coisas interessantes, mas era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho o papel; o ânimo é frouxo e o tempo assemelha-se à lamparina de madrugada. Não tarda o sol do outro dia, um sol dos diabos, impenetrável. (Machado de Assis)

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