30/09/2009


Dessa ausência tão bem cultivada, talvez não me sobre nada.

São dias em que me perco em tudo o que me cerca. São esses anjos tristes perto de mim, pousados em minha janela como pêndulos de solidão. Enquanto mamãe toca piano no caos, recolho os nossos cacos pela casa, talvez sabendo que esses são para sempre e assim é o nosso fim. São todas as músicas e o caos.
Enquanto tomo o café sem as gotas de salvação, tenho saudades de tudo. Vovó, por que me deixou aqui, sem o seu terço de brilhantes, sem nem saber para quem rezar? E onde estaria o para sempre escrito nas linhas tortas daquela noite?
E o coração espatifado entre as lágrimas que já não posso contar, não responde.
Não me esbarro nos móveis e assim, me estranho: “Você adora esbarrar nos móveis – ele diz”. (E querido, sinto a sua falta. Continuo ensaiando a nossa canção)
Gostaria de picar o meu catálogo de erros. Costume antigo. Todos ilustres, bem postos, como figuras coloridas de coleção. Gostaria de calar todo esse silêncio embebido em minhas vozes magoadas. Gostaria de estancar essas súplicas destiladas, e não tê-las me bastaria. Confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas.

Não escondas as tuas misérias: podes ter segurança com aquele que gosta dos teus defeitos, porque aos teus encantos e qualidades qualquer um se afeiçoa.
(Héctor Abad Faciolince, Receitas de Amor para Mulheres Tristes)

É quando ouço papai dizer: Durma querida, logo passa.

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