28/04/2010

de Roda, Canção. -


Com a raiva de alardear demônios, nada havia a ser dito, além de todas as palavras que já estavam instauradas ali. Nada a fazer-se, sem que mais nada restasse a pensar-se. Feriu-se o bichano. Em pelos curtos, vidas incontáveis. Somadas, de múltiplas fazem-se infinitas.
Pela sorte dos anjos, ou azar de mundos, que não este, permaneceu. Ali.

Permaneceu ali, como já prostara-se em outras horas. Horas doces e amargas, outros novelos, novas lãs. E olhava. Olhava com os olhos de olhar a alma. Olhar vidraças, janelas. Alguns muros, tantas noites e pares de ruas.
Francisca, outra de nossas Marias, mães e tias, pôs-se a contemplar. E contemplava por admirar. Além dos olhos, o animal nada fazia. Não retorcia, não cantava, não sorria. Miava.
Como os gatos fazem sempre, miar.

Jéssica C.

27/04/2010

Pausa.

PRIMEIRA PARTE
Até os dezessete anos, amei os diários. Tesouros de baú.
Literalmente.
Hoje empoeiram-se em um retrato puro e nostálgico do que passou, e não volta. É repetido, ma s que contraria?
Não quero escrever sobre a mudança que ainda dói, as novas cores de minhas paredes. Não quero escrever que aqui, nada de linhas de trem, minha igreja e o sinal de glória. Nada de oitenta e cinco, degraus e calçadas.
Quero escrever mesmo, sobre o meu curso, Letras. Finalmente.
Outro clichê: antes tarde do que nunca, minha neta.
Eu nunca tive a pretensão de sentar-me ao lado de um Camões. Muito menos que Pessoa me explicasse porque a chuva o deixa molhado e a Alberto, triste. Mas, preciso confessar: tenho fotogramas confusos deste filme que estou vivendo, que somados, são maiores que alfabeto. O nosso, o grego, todos os outros. São dias em que as letras se estendem em minha mente. Ensaiam passos e dançam falsas valsas. Me perco em meus próprios verbos, no meu passado, no meu presente, no meu futuro, para depois me achar em cada um deles. Perfeitos ou não.

Decido. Pela língua, pelos advérbios, pelos poemas, todos os romances: iria novamente a qualquer outro lugar.

SEGUNDA PARTE
Sabe aquela musiquinha: festa estranha com gente esquisita?
Pois é! Não aconteceu. Os estranhos estão imersos no maravilhoso do desconhecido. Mesmo que tão singulares, nada esquisitos. A pequena que me apelidou do que hoje virou o meu nome, é tão essencial quanto o silêncio e o barulho. Dos músicos, o que seríamos sem? A fotógrafa é gastrônoma, é menina, é mulher. É preto e branco, é colorido, açúcar puro. Me adivinha os pensamentos, me sublinha os guardanapos. Com Diva viajo em balões tranquilos. Com Bruno, penso que tudo pode ser. Ou não. E sempre estará tudo bem. Marcio é o sereno, que agita os nervos, os ouvidos. Caio é desfibrilador. Energiza. Samuel poderia mesmo ter vários nomes, tendo sempre suas filhas do vento. Luiz é o sorriso que emoldura palavras. Retratos que não quero pensar. Diego é a inércia de tudo aquilo que procuramos por nos fazer bem.
Em todo o canto, por todo o encanto.

(Tão bem quanto os que ficaram, a "parte do que sempre me fez forte". Tara, Thiago, Marília, Julia. E por vocês: toda saudade deste nosso mundo)