10/02/2010

Não morda a maçã, Eva.


E se assim me perguntassem, entre um café ou os segundos do elevador, o que me atormenta nesses dias, além do sol estandarte das tardes, a resposta viria em verso desacompanhado de melodia, novamente: Viver está me deixando louca.
São dias que permaneço na inércia da espera. Caso me venha o perverso, o amaria, para fazer valer o costume. Se me vier o são, não o detestaria, mas a conversão viria em doses que jamais serão remédio. Na intenção ou nos amores, há sempre o pecado disfarçado em seda pura, e ainda vale o que já foi dito: há mais alegria pelo arrependimento de um pecador, do que por cem justos que jamais pecaram. O mal nada é senão pura vaidade.*
Nestes dias, a salvação me levaria aos céus, a tentação, um andar abaixo. Das minhas palavras, faria um discurso republicano, cartão de aniversário, pedido de trégua ou acordos de guerra.
À espera. –
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* A Dama das Camélias, Romance Francês.

Paciência

Enquanto os planos para 28, 29, 30, são desfeitos em milhares e escapam pelas cortinas, como se ali não desejassem estar, outros de arranjam pela tela multicolorida. Multiplicam-se em meio às cartas que você diz não achar que valem o tempo. De nenhum modo. No way. E assim está feito, sem que nada mais me reste: muitos quilômetros em suas variações de alguns centímetros e planos desfeitos. “NOT”.
Em uma nova ordem, os fotogramas deste coração quase nada conceitual, e por horas, não coração, repetem cenas já vividas. Lágrimas novas com algumas dores já antigas. Empoeiradíssimas, não demoram em se repetir. Posso imaginá-lo: Você não se cansa? A aflição reajusta os desvios, o remorso castiga a culpa.
Ou, ficou difícil, tudo aquilo, nada disso. Sobrou meu velho vício de sonhar - Precipício em precipício.

Avesso

Depois do blues e as madrugadas, achou que mal não faria em deixá-lo. De uma vez, e dessa, para sempre. Há meses discutia com o analista se haveria mesmo amor, ou se o tudo somente era canção, vinho e lençóis convidativos. Freud explica e para todo o resto, metafísica. Noites atrás puseram-se os olhos uns sobre o outro e em uma manhã acharam que seria eterno. Lembrou da célebre: às vezes acaba o amor como se fosse melhor nunca ter existido. E decidiu, seria o fim. Não há análise possível para certas pretensões.
Ele, enlouqueceu. Os homens enlouquecem, todos sabem. Espatifam os retratos, rasgam os contos e suas eternas coincidências lastimáveis. Ela o deixou, enquanto as frases de misericórdia esbarravam na ausência absoluta de lágrimas de adeus. “E de que adianta tanta mobília?”
Nos cafés, amigos irão discursar: - Houve o tempo em que ela o amou, de verdade. Mas deste jeito que as novas mulheres amam. Em uma bela manhã acordam e já não amam mais, não há o que ser feito.
E depois dos cafés, martinis infalíveis para todos os tempos. Irão esquecer.